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Popularidade de Lisboa está em queda entre os nómadas digitais: rendas altas e população “hostil” levam muitos a procurar outros destinos

expresso.pt Popularidade de Lisboa está em queda entre os nómadas digitais: rendas altas e população “hostil” levam muitos a procurar outros destinos

Em sites especializados, vários nómadas digitais têm lamentado nos últimos meses o elevado custo de vida em Lisboa e a falta de simpatia da população, estando agora à procura de outros destinos para trabalhar. Para os representantes de duas associações portuguesas de nómadas digitais, ouvidos pelo E...

Popularidade de Lisboa está em queda entre os nómadas digitais: rendas altas e população “hostil” levam muitos a procurar outros destinos

Lisboa é cara, tem infraestruturas de má qualidade, ruas estreitas e péssimos serviços. Além disso, a sua gastronomia fica muito aquém das expectativas. É este o diagnóstico de Pieter Levels, fundador do site Nomadlist, dedicado a avaliar a qualidade de vida que cada cidade e país oferece aos nómadas digitais e que se tornou numa das principais referências do sector.

Apesar da análise de Levels, Lisboa está atualmente no primeiro lugar do ranking mundial do Nomadlist, que classifica cada cidade numa escala de zero a cinco, com uma pontuação de 4.13. Mas as passadas semanas têm sido atribuladas: a cidade caiu para o 13.º lugar, apenas para regressar ao topo da tabela poucos dias depois. A natureza volátil deste ranking, atualizado ao minuto para refletir as opiniões dos utilizadores do site, faz prever mais mudanças num futuro próximo.

De entre todas as categorias avaliadas, que vão da segurança à velocidade da internet ou às condições climatéricas, um indicador destaca-se pela negativa: o custo de vida. Parece que Lisboa está demasiado cara até para os nómadas digitais. E os comentários anónimos deixados na página referente à capital portuguesa refletem isso mesmo: os “apartamentos são caros, pequenos e velhos”, pode-se ler num deles; “Lisboa não é uma boa cidade. É cara, suja e pouco segura”, aponta outro; "É demasiado cara e o ambiente, em geral, desiludiu-me”, diz um terceiro.

Gonçalo Hall, um dos criadores e o atual presidente da Digital Nomad Association (DNA) Portugal, tem vindo a alertar para esta questão, argumentando que vários nómadas vêm-se agora obrigados a procura outras cidades portuguesas ou mesmo outros países para trabalhar.

“O número de nómadas digitais está de facto mais baixo em Lisboa e com tendência a baixar mais, uma vez que a cidade não oferece a mesma qualidade de vida que oferecia devido ao excesso de turismo, falta de alojamento turístico para aluguer mensal e aumento do custo de vida”, referiu ao Expresso o lisboeta e nómada digital.

Por sua vez, Joana Glória, fundadora do projeto Lagos Digital Nomads, convive com vários nómadas que estão a ponderar deixar Lisboa e fixar-se na cidade algarvia, citando o “valor das rendas das casas” na capital e a necessidade de uma comunidade "mais familiar”, ao contrário da lisboeta, que consideram excessivamente “dispersa”.

Os dados do Nomadlist parecem confirmar esta tendência. Em média, segundo as estimativas do site, Lisboa recebia em outubro de 2022 mais de 13 mil nómadas digitais, um número claramente superior ao dos primeiros meses de 2023, em que chegaram entre 7 e 9 mil mensalmente, com exceção de fevereiro. O pico de outubro de 2021 (20.400 chegadas) também está distante

Por outro lado, o ritmo a que Portugal concede vistos D8 tem vindo claramente a aumentar. Criado em outubro de 2022, este é um visto destinado a trabalhadores que chegam de fora da União Europeia (UE) e do espaço Schengen e que prestam atividade de forma remota para fora do território nacional.

Segundo os dados facultados ao Expresso pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), foram concedidos “cerca de 1100 vistos” para trabalho remoto até 17 de maio de 2023. Até janeiro deste tinham sido entregues cerca de 200, como noticiou o jornal Observador; e até 10 de março foram emitidos “cerca de 550”. O que significa que nos últimos dois meses foram concedidos perto de 550 vistos D8, um aumento de 70% face ao período entre janeiro e março.

Contudo, é importante recordar que nem todos os trabalhadores remotos optam por pedir vistos e que o peso dos nómadas digitais oriundos da UE será grande, pelo que é difícil medir com precisão o número de entradas e chegadas através deste indicador. Além disso, os dados não indicam em que cidade portuguesa se instalam os beneficiários dos vistos

HOSTILIDADE E COMBATE POLÍTICO

Para além dos preços elevados, há outro indicador que pesa pela negativa na classificação da capital portuguesa: a simpatia da população local. Os utilizadores do Nomadlist notam que os locais “parecem odiar os estrangeiros”. O próprio Pieter Levels, fundador do site, lamentou na rede social Twitter a existência de um grupo de “comunistas anti-nómada-digital revoltados”.

Aqui, a política desempenhou um papel fundamental. Nos últimos meses, os nómadas digitais encontraram-se inesperadamente no centro do furacão de um debate político-partidário em torno do custo de vida e do mercado da habitação. A escalada no preço das rendas nas grandes cidades tem motivado uma acesa troca de argumentos sobre o excesso de turismo, o alojamento local e o investimento estrangeiro na habitação, temas que envolvem direta ou indiretamente este grupo.

Ao mesmo tempo que reconhece "atitudes hostis" por parte da “extrema-esquerda” e de alguns setores da sociedade portuguesa, Gonçalo Hall, que diz ser ocasionalmente “atacado” nas redes sociais, rejeita por completo qualquer ligação entre o fluxo de nómadas digitais e o aumento nos custos com a habitação a nível nacional.

Para Hall, a hostilidade assenta sobretudo na “desinformação” face às características dos nómadas digitais, que permanecem em cada país durante "dois a três meses", nunca chegando a participar no mercado de arrendamento de longa duração ou mesmo na compra de imóveis, e que podem “trazer novas culturas” a Portugal.

Na mesma linha, Joana Glória enaltece o “impacto económico” que os nómadas trouxeram à região do Algarve, que deixa de estar tão dependente do “turista de verão”. Além disso, defende, os portugueses têm "bastante a aprender” com estes profissionais ambulantes, que “querem eles próprios deixar um contributo ao nosso país”.

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